Relatório pioneiro aborda desafios da indústria têxtil brasileira e propõe caminhos para a transformação da moda circular

A BVRio, em colaboração com o Programa Plásticos Circulares nas Américas (CPAP), lançou um relatório intitulado ‘Indústria Têxtil e de Vestuário Sustentável: Principais Desafios da Circularidade no Brasil’, com o objetivo de transformar o setor têxtil brasileiro, apresentando uma visão abrangente.

O Brasil, conhecido como um dos principais produtores e consumidores mundiais de produtos têxteis, enfrenta uma falta crítica de dados oficiais sobre o destino dos resíduos têxteis. A ausência de logística reversa e obrigações de reciclagem contribuíram ainda mais para esta lacuna de informação. O relatório preenche esta lacuna ao adotar uma abordagem pragmática para falar sobre a falta de transparência e a multiplicidade de desafios que abrangem a triagem, a coleta seletiva, as restrições tecnológicas, os obstáculos logísticos e os desafios financeiros na reciclagem de têxteis.

“O cenário tecnológico no Brasil para a reciclagem de têxteis ainda está em seus estágios iniciais, especialmente para produtos sintéticos como fibras de poliéster. Modelos de negócios que defendem a sustentabilidade, como vendas de usados, trocas, reparos, revendas e aluguel, foram testados no Brasil, mas atualmente não são escaláveis ​​ou financeiramente viáveis”, disse Claudia Jeunon, COO da BVRio, que coordenou a pesquisa.

O relatório destaca que investimentos substanciais nas cadeias de produção e reciclagem são cruciais. “Projetar para a circularidade pode desempenhar um papel fundamental ao influenciar toda a cadeia, tornando os produtos mais recicláveis”, disse Maria Accioly, especialista em economia circular da BVRio.

Na fase de reciclagem, o relatório enfatiza a necessidade de processos automatizados de triagem e remoção de aparas para melhorar a reciclagem de têxteis pós-consumo. “O desenvolvimento de novas tecnologias para separação de fibras é fundamental, assim como modelos de negócios como sistemas de reparo, reutilização e devolução que atualmente não são lucrativos ou escaláveis”, diz Maria. O relatório sugere que os incentivos públicos e fiscais poderiam ser fundamentais para tornar estes modelos financeiramente viáveis.

“Este estudo teve como objetivo apoiar a discussão sobre circularidade no setor têxtil, entendendo que este é um setor estratégico para o Brasil. A visão para esta cadeia envolve assumir metas audaciosas, como garantir que os têxteis colocados no mercado sejam duráveis, reparáveis e recicláveis, em grande medida, feitos de fibras recicladas, isentos de substâncias perigosas, produzidos com respeito aos direitos sociais e do ambiente. A “moda rápida está fora de moda” e os consumidores, cada vez mais atentos e conscientes, têm buscado peças duráveis e atemporais”, destaca Tathiana Colturato, coordenadora do Programa Plásticos Circulares nas Américas (CPAP), da União Europeia.

As recomendações delineadas vão além das práticas da indústria e das políticas públicas, sugerindo estratégias de comunicação e iniciativas educacionais. Destaca a necessidade de criação de um grupo inter e intrassetorial para analisar e propor soluções, incentivando pagamentos por serviços ambientais, defendendo incentivos fiscais para produtos têxteis reciclados e organizando fóruns e seminários sobre a circularidade dos têxteis.

Em essência, o relatório oferece um roteiro abrangente e prático para transformar a indústria têxtil brasileira em um modelo mais sustentável e circular, incentivando a colaboração e esforços concertados de várias partes interessadas para implementar essas recomendações e impulsionar mudanças positivas no setor.