Digitalização da cadeia de reciclagem em Moçambique e Angola

O aplicativo KOLEKT está nas mãos de vários usuários em Moçambique e Angola, como parte da primeira fase de um estudo e projeto piloto para identificar uma solução digital para a gestão de resíduos na África Austral. 

Entre março e abril, o diretor da Circular Action, Thierry Sanders, viajou aos países para iniciar os testes e estabelecer uma cadeia de usuários de ponta a ponta, a fim de melhorar a coleta e a reciclagem de resíduos. Os usuários incluem catadores informais, pontos de reciclagem comunitários e empresas geradoras de resíduos, entre os quais restaurantes e até mesmo uma igreja, que agora estão usando o aplicativo de forma gratuita para colocar no mercado de reciclagem os diferentes tipos de resíduos coletados. Os compradores, incluindo recicladores e exportadores, estão usando o KOLEKT para responder às ofertas dos usuários/vendedores e também podem divulgar os tipos de materiais que querem comprar e o preço que estão dispostos a pagar. O aplicativo trouxe, de forma instantânea, transparência ao comércio de resíduos, tornando visíveis a oferta e a demanda. 

“A resposta ao aplicativo, tanto por parte dos vendedores quanto dos compradores, tem sido, em geral, muito positiva, apesar de exigir uma mudança das operações. Os vendedores perceberam rapidamente como poderiam aumentar sua renda ou, no caso da igreja, criou um novo fluxo de receita adicional por meio da venda de resíduos que antes eram doados. Os compradores são recicladores e têm agora no aplicativo uma maneira fácil de identificar e garantir novas fontes do tipo de plástico que procuram, além de conseguirem monitorar a compra e a venda de resíduos”, comentou Thierry Sanders. 

Ambos os países têm uma grave deficiência de infraestrutura de reciclagem e coleta de resíduos municipais com pouco recursos; em Moçambique, menos de 2% dos resíduos sólidos são reciclados ou destinados à compostagem.

Financiado pelo programa RISE (Reforma para Investimento e Economias Sustentáveis) da União Europeia para a África, o projeto começou em março de 2023 em Moçambique, seguido por Angola em abril, e espera-se que ambos os pilotos sejam concluídos até o início de julho. Os aprendizados serão então compartilhados com outros países da região da África Austral (SADC). A Circular Action está trabalhando com a Agência Nacional de Resíduos [NWA] de Angola e a Associação de reciclagem de Moçambique (AMOR). 

A fundadora da AMOR, Stephane Temperman, disse: “Estou tão convencida que um aplicativo como o Kolekt é importante para a economia circular que contratei uma equipe de cinco pessoas para implementá-lo.” 

Nenhum dos dois países possui ainda uma legislação de Responsabilidade Estendida do Produtor (EPR), mas estão explorando as oportunidades e barreiras para implementar uma regulamentação de EPR nos próximos anos para ajudar a resolver o problema dos resíduos. Em Angola, Thierry Sanders consultou o governo para delinear os impactos da de uma regulamentação de EPR nos próximos 10 anos, e forneceu informações sobre os custos potenciais e a geração de receita para diferentes tipos de materiais. 
 

“O KOLEKT oferece transparência para a cadeia de recicláveis. O registro do vendedor, do comprador, da localização GPS e das fotos ajudam os recicladores a certificar sua contribuição. Uma vez auditados de forma independente, os recicladores podem vender esses certificados para as empresas geradoras de resíduos, e assim elas têm como comprovar que estão em conformidade com qualquer nova legislação de EPR. Esses certificados são chamados “créditos de plásticos”, que tornam a reciclagem mais lucrativa e gera, assim, mais demanda por materiais recicláveis. É um fomento para a economia circular”, esclarece Thierry Sanders.