Montanhas de chinelos: mar poluído é retrato dos desafios em logística reversa
A equipe da BVRio tem acompanhado em campo semanalmente a coleta dos resíduos retirados da Baía de Guanabara no projeto em parceria com a Ogyre e, cada vez mais, os volumes de chinelos descartados impressionam. Nos últimos 6 meses, foram 3,6 toneladas de chinelos ou sandálias de dedo de plástico e/ou borracha encontrados no mar e nos manguezais, ou seja, uma fila de 7,2 quilômetros de 25 mil chinelos alinhados. Isso equivale a sete voltas completas ao redor de um dos maiores estádios de futebol do mundo, o Maracanã, no Rio de Janeiro.
Os chinelos são alguns dos resíduos carregados pelas chuvas e que atolam próximos da Colônia Z 10 e Praia dos Bancários na Ilha do Governador. Afinal, eles podem ser reciclados ou geram alguma renda extra para as comunidades?
Ao todo, já foram retiradas quase 29 toneladas de espuma do local, sendo que apenas 1,1 tonelada é reciclado e gera uma renda para a comunidade. Os catadores de rua de resíduos sólidos, assim como os pescadores neste projeto, prestam um serviço ambiental importantíssimo. Quando o “lixo” é retirado do mar, a primeira triagem é feita diretamente pelos pescadores quando eles separam os tipos de resíduos. Deste volume, o que foi classificado como espuma ou chinelo segue para a Cooper Ecológica, a qual faz uma nova classificação do material e verifica o que vai para a recicladora.
É possível reciclar chinelos?
Quem nunca caminhou e, de repente, percebeu que um dos pés do chinelo arrebentou a tira? Mesmo o outro pé estando em perfeito estado, o que a maioria das pessoas faz é descartar o par. Mas onde vão parar esses chinelos? O material desses calçados, em geral feitos de borracha natural ou sintética e derivados de plástico, não tem muito valor na cadeia de reciclagem. “Com sorte, eles vão parar num aterro sanitário e levarão anos para um processo de decomposição. Infelizmente, nem todo chinelo coletado consegue voltar à cadeia produtiva. Das 3,6 toneladas coletadas, menos de um terço conseguiu ser reciclado”, enfatiza o especialista em economia circular da BVRio, Pedro Succar.
Segundo ele, as taxas de reciclagem de chinelos são baixíssimas. A borracha utilizada em chinelos é a chamada borracha microporosa, vendida na forma de placas coloridas (EVA), um material de difícil decomposição, seja da extração natural das seringueiras ou de derivados do petróleo. Por isso, merece uma atenção especial na cadeia de reciclagem.
“Se queremos implementar uma economia circular, os produtores precisam pensar em design que facilitem a reposição e/ou o conserto das partes danificadas, que sejam produzidas as peças de reposição e que o material do qual são feitos os chinelos possam ser reciclados para serem produzidos novos chinelos”, comenta.
Conscientização para mudança e coleta seletiva
Um dos grandes desafios para se evitar a poluição dos oceanos é o engajamento da população sobre a coleta seletiva. “É preciso um esforço conjunto da sociedade civil, governo, empresas e terceiro setor para promoção de campanhas de educação ambiental que esclareçam os tipos de materiais que podem ser reciclados, como as pessoas devem higienizar as embalagens e onde descartá-las. O trabalho de Comunicação é fundamental para a adoção de novos hábitos e a construção de uma cultura coletiva colaborativa que reduza o impacto causado ao meio ambiente”, afirma Flávia Ribeiro, Gerente de Comunicação e Marketing da BVRio.
Seja um material sintético ou natural, ambos precisam ser triturados, aquecidos com insumos químicos e pressionados para se obter um novo material. Do aproveitamento de parte da reciclagem de borrachas, há muitas organizações não governamentais e artesãos que produzem peças como chaveiros, bolsinhas, acessórios, etc. Saiba mais em :