Lançado em Londres fundo verde para financiar a produção de soja responsável
Lançado em Londres fundo verde para financiar a produção de soja responsávelO Responsible Commodities Facility tem por objetivo levantar mais de US$ 1 bilhão para a produção brasileira de soja responsável, com proteção do Cerrado e redução de emissões. |
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4 de Julho de 2019, Londres – o primeiro mecanismo financeiro, capitalizado com green bonds, para financiar agricultura sustentável, foi anunciado hoje durante a Semana da Ação Climática em Londres (London Climate Action Week). O Responsible Commodities Facility (fundo de commodities responsáveis), lançado na Bolsa de Londres (London Stock Exchange), tem por objetivo prover US$ 1 bi em linhas de crédito para a produção de soja e milho em áreas já consolidadas ou pastagens degradadas, evitando a abertura de novas áreas. Para produtores, a iniciativa complementará as linhas de crédito oficiais (crédito rural), em um momento em que o governo está reduzindo o volume de financiamentos para custeio agrícola a juros subsidiados. O fundo deverá financiar, ao longo dos próximos 10 anos, a produção de mais de 180 milhões de toneladas de soja e milho responsáveis, cujo valor de mercado supera US$ 43 bi, contribuindo para que a expansão da agricultura ocorra em áreas já consolidadas, reduzindo a pressão pela conversão de novas áreas. No mesmo período, o fundo incentivará a restauração e proteção de 1.5 milhões de hectares de habitats naturais do Cerrado, levando a uma redução de emissões estimada em 250 milhões de tCO2e. “A demanda global por soja não mostra sinais de desaceleração e, consequentemente, está levando a uma expansão contínua da área de produção agrícola no Brasil”, disse Shaun Kingsbury CBE, presidente do conselho de administração da Sustainable Investment Management Ltd – SIM (empresa gestora do fundo). “Com o redirecionamento da expansão da soja em áreas já desmatadas, o Responsible Commodities Facility contribuirá para conter a abertura de áreas de Cerrado, reduzindo emissões e promovendo a preservação da reserva legal e o cumprimento do Código Florestal”.
Existem quase 18 milhões de hectares de pastagens degradadas aptas para a produção de soja no Cerrado, o que corresponde a uma área 3 vezes superior ao necessário para a expansão da produção nos próximos 10 anos. Melhorar o uso das áreas já abertas e sub utilizadas ajudará também a reduzir as emissões resultantes do desmatamento para uso agrícola, atualmente estimadas em 1,1 bilhão de toneladas de CO2e por ano, o que corresponde a 51% das emissões brasileiras de gases de efeito estufa. O Brasil se comprometeu a reduzir suas emissões em 43% até 2030, sendo que quase 90% dessa redução deverá vir da redução do desmatamento. No entanto, ainda não existem mecanismos financeiros para ajudar a atingir essa meta. “O Responsible Commodities Facility traz para o mercado uma oportunidade para aumentar a produção sem conversão de áreas, que resultaria em perda de habitats naturais, biodiversidade e aumento da emissão de gases de efeito estufa” disse Mauricio Moura Costa, COO da SIM. “A utilização de ferramentas financeiras inovadoras, o aumento da transparência e rastreabilidade, e a adoção de critérios estritos, contribuirão para aumentar a produção de commodities responsáveis”.
Para participar no Facility, produtores serão selecionados de acordo com critérios de elegibilidade relacionados à proteção da vegetação do Cerrado e ao cumprimento da legislação. O cumprimento dessas exigências será verificado de forma independente e será supervisionado por um Comitê Ambiental, integrado por produtores, compradores, ONGs e organizações financeiras. Os volumes e a origem dos produtos financiados serão registrados em um registro próprio (Responsible Commodities Registry), que manterá também um controle sobre a troca de titularidade das commodities ao longo da cadeia de suprimento. “Existe hoje um consenso de que a produção agrícola brasileira pode continuar a expandir sem a necessidade de desmatamento ou conversão de novas áreas de vegetação nativa”, comentou Arnaldo Carneiro, especialista em mudanças do uso da terra, INPA. “Apesar dos sinais de mercado e da demanda crescente por produtos sustentáveis, ainda há a necessidade de se criar incentivos para atrair produtores e traders na produção de commodities responsáveis”, comentou Pedro Moura Costa, CEO SIM. “O objetivo do fundo é direcionar financiamento para contribuir para a expansão do cultivo de soja de maneira responsável, alinhado aos objetivos do país, do seu setor produtivo e da sociedade civil.” O fundo é apoiado pelo programa Partnership for Forests do governo Inglês e tem um acordo de colaboração com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O fundo, que será gerido pela empresa Sustainable Investment Management (SIM) e apoia o Manifesto do Cerrado, iniciativa lançada por 50 organizações da sociedade civil e apoiada por quase 150 grandes empresas globais com o objetivo de reduzir o desmatamento resultante da produção de soja. FIM
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