Iniciativa pioneira entrega as primeiras toneladas de soja certificada livre de desmatamento do Brasil
O impacto ambiental da Responsible Commodities Facility (RCF), iniciativa pioneira que cria uma inovação financeira para o setor de agricultura sustentável, acaba de ser validado de forma independente. A etapa piloto desse programa de financiamento de commodities responsáveis foi financiado pelas redes de supermercados Tesco, Sainsbury’s e Waitrose do Reino Unido, e entregou 42.400 toneladas de soja livre de desmatamento e conversão para a cadeia de abastecimento de soja, parte da produção de 32 fazendas no Cerrado. O Programa Cerrado 1 agora avança para seu segundo ano, com os investidores comprometidos com um programa de quatro anos.
O relatório do primeiro ano do programa foi publicado hoje (em inglês), e evidencia resultados mais que promissores: 100% dos fundos investidos foram desembolsados para os produtores elegíveis, que foram selecionados com base em vários critérios incluindo a localização das fazendas, o risco de desmatamento, a área de excedentes de reserva legal e o histórico de crédito. Além disso, nenhum produtor participante desmatou ou converteu vegetação nativa em suas áreas e, ainda assim, todos bateram suas metas de colheita dessa safra de soja.
O programa RCF Cerrado 1 promoveu a conservação de 8.541 ha de vegetação nativa, dos quais 2.145 ha são excedentes da reserva legal. Isto resulta na proteção de 2,9 MtCO2 estocados na vegetação nativa, além do impacto positivo de não causar emissões decorrentes de mudanças no uso da terra.
Os proprietários rurais se comprometeram a aderir aos requisitos socioambientais do programa, conforme definido nos Critérios de Elegibilidade da RCF. As 32 fazendas participantes se beneficiaram de US$ 11 milhões concedidos como linhas de crédito a juros baixos, um investimento realizado por meio de uma abordagem inédita: títulos verdes emitidos em dólares (CRAs – Certificados de Recebíveis do Agronegócio) e registrados na Bolsa de Valores de Viena.
O monitoramento das obrigações e dos impactos ambientais foi conduzido pelas equipes que coordenam a iniciativa, a empresa de finanças ambientais Sustainable Investment Management (SIM) e a BVRio. Os resultados foram verificados de forma independente pela EarthDaily Agro, além de um respeitável Comitê Ambiental, composto pela The Nature Conservancy, Conservation International, WWF Brasil, ONU Meio Ambiente, IPAM, e a Proforest, que analisou as metodologias empregadas para a quantificação do impacto e dos relatórios de monitoramento.
O diretor da SIM, Mauricio Moura Costa, comentou: “Temos o prazer de anunciar os resultados do programa, que foi entregue dentro do planejado e cujo conceito foi comprovado em campo. Agora, resta a urgência de escalonar o programa para garantir maior proteção ambiental ao Cerrado, que está sob eminente pressão de adicionalidades regulatórias sendo aplicada em outras regiões do Brasil. Importadores de soja querem esta e outras commodities livres de desmatamento e conversão para suas cadeias de abastecimento responsáveis, e este é o mecanismo capaz de oferecer isso, e em escala.”
Em nome do Comitê Ambiental da RCF, Greg Fishbein, Diretor de Finanças Agrícolas da The Nature Conservancy, comentou: “A RCF gera impactos tangíveis sobre o clima e a biodiversidade ao oferecer aos produtores de commodities que podem desmatar legalmente suas florestas um claro incentivo financeiro para não o fazer. Esse é exatamente o tipo de mecanismo que imaginamos quando criamos o IFACC – um mecanismo que pode alavancar o financiamento aos agricultores para incentivar sua transição a modelos de produção favoráveis ao clima”.
Os primeiros investidores da RCF comentaram:
Ken Murphy, CEO do Grupo Tesco, disse: “Há vários anos, buscamos impulsionar ações do setor para combater o desmatamento, inclusive desempenhando um papel de liderança na formalização do Manifesto da Soja do Reino Unido no ano passado. Assumimos também o compromisso de, até 2025, apenas comprarmos soja produzida em áreas verificadas como livres de desmatamento. Para atingir essa meta, é fundamental contarmos com um apoio prático e financeiro aos agricultores brasileiros comprometidos com a produção de soja desmatamento zero e com a conservação da vegetação nativa. Essa iniciativa destaca a necessidade de todo o setor de alimentos se unir e apoiar a proteção de ecossistemas críticos como o Cerrado brasileiro. Recomendamos que outras empresas e organizações também considerem em oferecer apoio financeiro à RCF para que a vejamos sua ampla implementação nos próximos anos.”
Simon Roberts, CEO do Sainsburys, disse: “Durante a COP26, assinamos o Retailers’ Commitment for Nature da WWF, com o objetivo coletivo de reduzir pela metade o impacto ambiental das importações do Reino Unido até 2030, que sustenta o nosso compromisso de comprar commodities 100% livres de desmatamento e conversão até 2025. Para limitar o aquecimento global a 1,5 grau e atingir as metas estabelecidas no Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas, é fundamental proteger e restaurar florestas e ecossistemas como o Cerrado no Brasil. É por isso que estamos orgulhosos de termos unido forças com outros investidores para financiar a RCF, um investimento direto na produção sustentável da soja, um mecanismo que recompensa os agricultores pelos seus esforços de conservação da vida selvagem e da biodiversidade do Cerrado.”
James Bailey, Diretor Executivo do Waitrose, disse: Estamos muito satisfeitos por sermos um dos principais investidores a apoiar este fundo inédito, junto com o Tesco e o Sainsbury’s. O Waitrose está empenhado em contribuir para a proteção e restauração da natureza. Para isso, estabelecemos um compromisso ambicioso de obter todos os nossas commodities de fontes responsáveis até 2025, incluindo soja livre de desmatamento e conversão. É um enorme desafio deter a perda de ecossistemas com tanta biodiversidade como o Cerrado brasileiro, o que exige abordagens inovadoras como esta. Esperamos que esse fundo demonstre o enorme potencial das finanças verdes incentivarem práticas agrícolas responsáveis, de forma sustentável e escalonável, gerando benefícios tangíveis à natureza e aos agricultores. Não obstante, atingir esse potencial e proteger biomas inteiros depende de ampla aceitação desse mecanismo. Por isso, é fundamental que o setor de alimentos e seus investidores apoiem essa iniciativa extremamente necessária.”