Método “carrinho de sorvete” rendeu resultados imediatos para a coleta e reciclagem de embalagens cartonadas no Vietnã
Inovar requer flexibilidade. Essa e outras lições renderam algumas reflexões feitas por Thierry Sanders, Diretor da Circular Action, empresa spin-off da BVRio, após sua visita ao Vietnã. Ele foi conferir de perto as operações do projeto piloto em implementação em Saigon, onde estamos testando diferentes abordagens, levando em consideração o contexto local. O projeto precisava de uma nova abordagem porque a meta de coleta estava aquém do esperado; o pulo do gato foi a rápida adoção de uma outra abordagem que refletiu em resultados imediatos – como Sanders discute aqui.
A “economia do gotejamento” não funciona. Esse conceito foi muito utilizado por economistas nos anos 80 e perdura até hoje, apesar de ser uma teoria econômica ultrapassada que, quando aplicada na prática, não funciona. A nossa experiência em Saigon, no Vietnã, comprova.
Inicialmente, nosso projeto de coleta para reciclagem de embalagens cartonadas de bebidas, em parceria com a PRO Vietnam e a TetraPak, pretendia oferecer recursos na base, diretamente aos catadores – uma abordagem “bottom-up” (do termo em inglês), normalmente nossa primeira opção, a exemplo de experiências atuais e passadas. Porém, devido a circunstâncias locais, nos primeiros meses optamos por testar uma abordagem “top-down”, ou seja, oferecemos os recursos financeiros para a recuperação e destinação dessas embalagens aos agregadores. Assim, nos últimos três meses, o agregador comprava os materiais recicláveis dos catadores com os subsídios do projeto, prensava e entregava ao reciclador.
Contudo, os agregadores são negócios estruturados, e já realizam esse serviço para outros tipos de materiais com valor no mercado de reciclagem local. Pagá-los por quilo de embalagem prensada e destinada ao reciclador não representava nenhum incentivo ou oportunidade de negócio atraente a ponto de engajá-los a recuperar mais dessas embalagens usadas. Sem surpresa, nosso projeto não estava rendendo os resultados esperados e, além disso, o agregador tinha que administrar o pagamento pelo material com os recursos do projeto, mas não o estava fazendo de forma justa entre os catadores.
Com essa lição aprendida, resolvemos adotar uma abordagem “bottom-up”, ou seja, passamos a oferecer os recursos financeiros e os meios de implementação direto na base: pagamos o incentivo aos catadores, que se beneficiam da renda extra de mais esse tipo de material reciclável com compra garantida, e estamos implementando os meios para a realização do serviço pelos catadores sem que eles tenham que ir até os agregadores – nós é que vamos até eles, o chamado método “carrinho de sorvete”.
O método carrinho de sorvete
Como fazem os vendedores de sorvete com seus carrinhos, nós alugamos um pequeno caminhão para rodar os bairros de ruas estreitas de Saigon onde trabalham muitos catadores informais. Fazemos isso numa hora fixa todos os dias, e anunciamos em um alto-falante nossa chegada e oferta para comprar as embalagens. Essa foi a fórmula que fez com que agora atingíssemos os resultados esperados com esse projeto. E, mais importante, essa nova abordagem também permitiu oferecer um preço melhor por quilo de embalagem compactada pelos catadores. Assim, o dobro do peso está sendo entregue numa só viagem com o caminhão (250 kg) ao agregador, que destina o material para a reciclagem.
Começamos com carregamentos de 60-80 kg por carga e, em apenas duas semanas, passamos a levar ao agregador 200-300 kg por carga. Os catadores aderiram imediatamente ao projeto, pois recebem um pagamento por performance dentro de cronograma previsível, o que significa uma renda regular e relativamente estável para a coleta desse tipo de material.
Ampliando a escala
Nesse ano, vamos escalonar o projeto com um plano de colocar nas ruas de Saigon 40 caminhões de coleta com a meta de coletar 3.000 toneladas de embalagens cartonadas. Usaremos contratos de compra top-down para assegurar a demanda e pagamentos de incentivos de coleta na base para garantir o fornecimento e a inclusão social. Escalonar essa operação só é possível graças ao KOLEKT, desenvolvido exatamente para esse tipo de abordagem bottom-up, pois permite monitorar os volumes e incentivos pagos aos diversos catadores informais, ao mesmo tempo que o comprador pode verificar e gerenciar seus recursos financeiros.